Os leitores mais atentos provavelmente ficarão chocados com a declaração de Gênesis 2.18. Seis vezes na narrativa da criação em Gênesis 1 nos deparamos com a expressão: “E viu Deus que era bom”. Concluímos então que “Deus viu tudo o que havia feito, e tudo havia ficado muito bom” (v. 31).
Agora, de repente, nos surpreendemos ao ler que algo “não é bom”. Como pode haver algo que “não seja bom” na criação de Deus? Resposta: não é bom que o homem esteja só, pois o homem sem a mulher é incompleto.
Vale a pena chamar a atenção para o fato de que esta não é uma declaração absoluta, pois algumas pessoas são chamadas para permanecerem solteiras, como deixou claro o apóstolo Paulo (cf. 1 Co 7.7). Além disso, Jesus, embora sendo perfeito em sua humanidade, permaneceu solteiro, o que indica que é possível ser humano e solteiro ao mesmo tempo! (cf. Mt 19.11-12).
Retornando a Gênesis 2, lemos que Deus determinou dar a Adão uma companheira que lhe correspondesse. Embora as duas palavras hebraicas usadas aqui possam ser traduzidas de várias maneiras, elas combinam os conceitos de parceria e adequação. Não encontramos aqui nenhuma base para posições extremas, quer da supremacia masculina (homens dominando as mulheres) quer do feminismo radical (mulheres prescindindo dos homens), nem apoio para parceiros gays ou lésbicas.
Seria um erro, no entanto, restringir a aplicação de Gênesis 2.18 ao casamento. Calvino foi um dos comentaristas que observaram sua referência mais abrangente. “A solidão não é boa”, ele escreveu. Não é bom para nenhum ser humano estar só. Deus nos fez seres sociais. A amizade é um dom precioso de Deus.
Rev. Jonas M. Cunha
(Extraído de “A Bíblia Toda, o Ano Todo” – John Stott)