sábado, 24 de novembro de 2012

Creio em Jesus Cristo...desceu ao Hades


“A si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”. Filipenses 2.8


Algumas pessoas ao lerem estas palavras do credo apostólico ficam se perguntando: Será que Jesus foi mesmo ao inferno? E se Ele foi, o que Ele foi fazer lá?
Este questionamento nos permite expor a respeito da doutrina dos estados de Cristo. Em geral “estado” é a posição ou estatus que alguém guarda na vida, e em particular o modo de relação forense em que alguém se coloca diante da lei, enquanto “condição” é o modo de existência pessoal, especialmente segundo o determinam as circunstâncias da vida.  Assim, aquele que diante de um tribunal de justiça é condenado se encontra em um estado de culpa ou de condenação, ao que, em geral, segue uma condição de encarceramento com todos os seus resultados de vergonha e privações.
Na teologia os estados do Mediador se consideram, geralmente, acompanhados das condições resultantes.  De fato, os estados diferentes de humilhação e exaltação, segundo costuma-se defini-los, têm a tendência de por em realce, mais as condições do que os estados.  Entretanto, os estados são mais importantes que as condições e assim devem ser considerados.
No estado de humilhação Cristo esteve debaixo da lei, não só como regra de vida, mas como a condição do pacto das obras, e também debaixo da condenação da lei, mas no estado de exaltação está livre da lei, havendo cumprido a condição do pacto das obras e havendo pago o castigo do pecado.
Fundamentando-se em Filipenses 2. 7 e 8, a teologia reformada distingue dois elementos na humilhação de Cristo: o fato dele haver posto de lado a majestade divina, e  em haver se sujeitado às demandas e maldições da lei.  O elemento essencial e central do estado de humilhação encontra-se no fato de que aquele que era Senhor de toda a Terra, o supremo legislador, se coloca debaixo da lei cumprindo, em benefício de seu povo, com todas as obrigações representativas e penais que ela impunha.  Por isto, se fez legalmente responsável pelos nossos pecados e atraiu sobre si a maldição da lei.
Este estado é refletido na correspondente condição que se descreve nas etapas de humilhação: encarnação, sofrimento, morte, sepultamento, e, descida ao hades.        
No Antigo Testamento, fala-se sempre dos mortos como indo a seus pais, descendo ao Sheol. Os tradutores da Septuaginta empregaram a palavra hades para traduzir sheol.  Ambas querem dizer: mundo invisível habitado pelo espírito dos mortos, aí se encontram em plena consciência, uns em estado de miséria e outros em estado de felicidade.
Muitas vezes, a palavra hades no Novo Testamento significa apenas morte (1 Co 15.55), enquanto inferno é sempre lugar de sofrimento (Mt 18.19; Mc 9.47-48).
Ao analisar algumas passagens bíblicas que são citadas para demonstrar que Cristo desceu ao inferno (em um sentido peculiar a ele propriamente) notamos que as mesmas não ensinam isto: I- Salmo 16.8-10//Atos 2.25-27, 30-31 – alguns concluem que a alma de Cristo estava no inferno (hades) antes da ressurreição, porque o texto diz que ela não foi deixada ali. Porém: a) a palavra alma se usa com frequência no hebraico como pronome pessoal e sheol como o estado de morte; b) se entendermos desta maneira essa palavra, teremos um claro paralelismo de sinônimos.  A ideia expressa seria que Jesus não foi deixado no poder da morte. c) Isto está em perfeita harmonia com a interpretação de Pedro em Atos 2.30,31 e a de Paulo em Atos 13.34,35.  Nos dois casos está citado o mesmo salmo para provar a ressurreição de Jesus. II- Salmo 18.5 e 116.3 – a alusão em ambos os casos é a ideia familiar de alguém em uma rede.  A ideia é que o salmista se sentia tão enleado que a morte lhe parecia inevitável.  Isso é algo muito diferente de “desceu ao inferno ou sheol. Além disso, a posição em que a clausula em questão se mantém no credo proíbe tal interpretação. Ela seque a clausula referente à morte e ao sepultamento de Cristo. É a exegese natural das palavras imediatamente anteriores. “Ele foi crucificado, morto e sepultado, e desceu ao Sheol”, isto é, ingressou no estado invisível.  Mas seria totalmente estranho dizer: “ele foi morto, sepultado e sofreu extrema agonia”,  quando se admite que seus sofrimentos seus sofrimentos terminaram na cruz. (Inferno – no caso, se refere ao que é invisível, o que está encoberto.  Todos os mortos, justos e injustos vão para lá).
  Rev. Jonas M. Cunha
(continua no próximo boletim)