quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

A Ceia do Senhor


“Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste cálice, 
vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha.”1Coríntios 11.26

             Durante a refeição no Cenáculo, Jesus tomou o pão e, partindo-o, deu-o aos discípulos, dizendo-lhes: “Isto é o meu corpo dado em favor de vocês: façam isto em memória de mim” (Lc 22.19). Após a refeição, tomou o cálice de vinho e o deu a eles, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês” (Lc 22.20).  Tais palavras e atos são plenos de significado, pois nos mostram a própria visão de Jesus em relação à sua morte. Três verdades se destacam.
 1ª) A centralidade de sua morte. Jesus estava dando instruções para o seu próprio culto memorial – eles deveriam comer o pão e beber o vinho “em sua memória”. Além do mais, o pão representaria não somente o corpo vivo de Jesus, como também o corpo dado em favor deles, enquanto o vinho representava o seu sangue derramado.  Em outras palavras, ambos os elementos apontavam para a morte de Jesus.  Era pela morte que ele desejava ser lembrado.
 2ª) O propósito da morte de Jesus.  Conforme Mateus, o cálice representava “meu sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para perdão de pecados” (Mt 26.28). Esta é a declaração verdadeiramente maravilhosa de que, através do sangue de Jesus, derramado em sua morte, Deus estabeleceria uma nova aliança (Jr 31), cuja maior das promessas era o perdão dos pecados.
 3ª) Necessidade de nos apropriarmos de forma pessoal dos benefícios da morte de Jesus.  No drama do cenáculo os discípulos não eram apenas espectadores, mas participantes. Jesus não somente partiu o pão, mas deu-lhes para que o comessem.  Não somente derramou o vinho no cálice, como também o deu para que eles bebessem.  Da mesma forma, não bastou que Cristo morresse – temos de nos apossar das bênçãos de sua morte.  O ato de “comer o pão e beber o vinho” foi, e ainda é, uma parábola viva do receber a Cristo como nosso Salvador crucificado e de nos alimentarmos dele em nosso coração mediante a fé.
A Santa Ceia, conforme instituída por Jesus, não foi uma declaração sentimental do tipo “não me esqueçam”.  Antes, foi um drama com grande riqueza de significado espiritual.

John Stott – A Bíblia toda, o ano todo.

Guerra Contra a Carne


“Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo.”1Coríntios 15.57



            Uma das artimanhas do diabo para nos afastar de Deus é nos fazer pensar que somos tão maus, que não somos dignos de estar na Sua igreja. Ou então, que só depois que pararmos de cometer erros é que poderemos fazer parte de Seu povo.  Estes pensamentos têm afastado muitas pessoas de Deus, e feito muitos crentes viverem tristes e sentindo-se derrotados.
Em Romanos 7.7-25, fica claro a triste realidade da nossa condição.  Embora salvos em Cristo, lavados e remidos no sangue do Cordeiro, ainda possuímos uma natureza pecaminosa.  O pecado habita em nós – “Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não porém, o efetuá-lo” (Rm 7.18). E no verso 21, do mesmo capítulo de Romanos, Paulo diz: “Então, ao querer fazer o bem, encontro a lei de que o mal reside em mim”.
No verso 23 e 25, ele usa a “lei” como metáfora, para se referir a autoridade, compulsão e controle do pecado em nossa vida, como a lei da gravidade. E o pior é que ele está dentro de nós, e nos deparamos com ele, mesmo em nossos melhores momentos, e esta é uma luta sem trégua. Um “cabo de guerra” constante entre fazer a vontade de Deus e fazer a nossa vontade (da carne) – Rm 8.5.
Não podemos viver na ignorância espiritual.  É importante compreender esses fatos sobre a nossa velha natureza. A libertação e vitória não virão pela negação de que o mal existe em nossa própria natureza humana. Porém, por mais que exercitemos nossa força de vontade, falhamos.  Não há forças em nós para resistir e fazer a vontade de Deus.
Mas...”Graças a Deus por Jesus Cristo...” (v. 25). O apóstolo Paulo reconhecia que esta luta que temos, ele também tinha. As frustrações que sentimos, ele também experimentou. E no capítulo 8.1-11, ele vai dizer como nós podemos vencer esta guerra. 
1º) Temos de deixar Deus, através do Espírito Santo, vencer por nós, em vez de tentarmos vencer para Ele. Não há força em nós para resistir e fazer a vontade de Deus. “A lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte.” (Rm 8.1 e 2).
2º) Temos que andar com Jesus cada dia – falando com Ele (orando) e ouvindo Sua voz (Bíblia), confessando nossos pecados. Temos que tomar a decisão, pela fé, de andar no Espírito e não viver mais para agradar a si mesmo (Gl 5.17).
Para ter uma vida vitoriosa, precisamos deixar o Espírito controlar nossa vida (Gl 5.16)                         
Rev. Jonas M. Cunha

A Lição de Mical


“Voltando Davi para abençoar a sua casa, Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele e lhe disse: 
Que bela figura fez o rei de Israel...”. 2Samuel 6.20


Há uma tendência humana, desde a queda de Adão e Eva, de querer justificar atos pecaminosos, como não sendo praticados por culpa própria, mas como uma consequência natural dos atos dos outros. “Se ele não tivesse feito aquilo, eu não teria feito o que fiz!”.  Muitos creem que isto isente a pessoa da responsabilidade de seus atos.
As pessoas que são tementes a Deus devem ter uma atitude diferente.  Jamais devem justificar a prática do pecado ou minimizar sua gravidade.
O texto nos conta que após conseguir trazer a arca da aliança para Jerusalém, Davi, numa incontida expressão de alegria, dançava com rodas as suas forças diante de Deus, despojando-se de suas vestes reais, usando em seu lugar uma estola sacerdotal (2 Samuel 6. 12-22).
Mical, sua esposa, o acusou de falta de pudor e falta de senso de sua posição real, mas, ao fazê-lo, ela revelou seus baixos sentimentos e disposições encobertos. Ela não pode perceber o pecado grave que escondia em seu próprio coração, colocando-se como um juiz a condenar Davi.
Davi não estava usando vestes indecorosas, mas as mesmas vestes de linho que os sacerdotes do Senhor, que estavam sacrificando bois e carneiros, enquanto a arca de Jerusalém era reconduzida a Jerusalém. A referência de Mical aos sacerdotes como vadios, mostra bem o desprezo que ela sentia não somente por eles, mas também pelo ofício que ministravam e pelo Deus a quem serviam.
Além do orgulho de sua posição real, e o ciúme, por Davi estar ocupando a posição que era de seu pai, diferentes passagens revelam outras motivações negativas: talvez estivesse amargurada por Davi não ter procurado reavê-la, após ela livra-lo das mãos de Saul, e acabou sendo entregue como esposa a outro homem (1 Sm 18.20,21; 1 Sm 19.10-17; e 1 Sm 25.44); além disso, durante seu tempo de fuga ele tomou outras duas mulheres - Abigail e Ainoã (1 Sm 25.39-44); ela fazia parte da negociação de Davi com Is-Bosete, através de Abner, para unificação do Reino, demonstrando Davi, de certa forma, superioridade em relação a Saul, desfazendo a afronta dele (2Sm 3.7-21).
Ela tinha então motivos para falar asperamente com Davi (sentia-se usada e desprezada, o que certamente fizeram seu coração encher-se de mágoa e ira), porém isto justificava o seu pecado.
Aquilo que nos machuca, não nos dá o direito de machucar também.  Cuidado! É comum enxergar o cisco nos olhos dos outros, sem enxergarmos a trave diante de nós (Mt 7.3-5).
Rev. Jonas M. Cunha

Creio em Jesus Cristo...desceu ao Hades

“A si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz”. Filipenses 2.8
(conclusão)
III- Efésios 4.9 “regiões inferiores da terra”, isto é, as partes mais baixas, ou seja, à terra. A maioria dos comentaristas entende que a expressão é usada apenas para se referir a terra.  Como no Salmo 68, temos um contraste entre céu e terra. Efésios 4 aponta para o triunfo de Cristo, uma vez que a ascensão ao céu implica uma descida prévia à terra.  IV- 1 Timóteo 3.16- muito menos, aqui, poderia ser entendido como Cristo aparecendo no mundo inferior na presença de Satanás e seus anjos. Aqui não se refere a anjos caídos, antes, afirma que Ele foi reconhecido por toas as classes de seres, sua encarnação.  V- 1 Pedro 3.18,19 – é impossível que Cristo tenha descido ao inferno e com o propósito de pregar. A interpretação que os protestantes comumente dão a esta passagem é que Cristo no espírito pregou por meio de Noé aos desobedientes que viveram antes do dilúvio, que eram espíritos aprisionados quando Pedro escreveu, e pelo mesmo, poderiam ser designados desse modo.  Bavinck considera que isto é insustentável e interpreta a passagem como que se referindo a ascensão, a que ele considera como uma rica, triunfal e poderosa pregação aos espíritos em prisão. VI- 1 Pedro 4.4-6, o apóstolo adverte aos leitores que não devem viver o resto de suas vidas na carne, conforme a concupiscência dos homens, mas conforme a vontade de Deus, ainda que com isto ofendam a seus antigos companheiros e sejam ultrajados por eles, posto que estes terão que dar contas de seus atos a Deus que está pronto para julgar aos vivos e aos mortos.   Os “mortos” a quem o evangelho foi pregado, evidentemente, todavia, não estavam mortos quando se lhes pregou, posto que o propósito da pregação era em parte que pudessem “ser julgados na carne segundo os homens”.  Isto só poderia ter acontecido durante a vida terrena deles.
Muitas vezes, a palavra Hades no N.T. significa apenas morte (1 Co15.55), enquanto Inferno é sempre lugar de sofrimento (Mt 18.9;Mc 9.47-48).  Entendemos que a expressão Hades, como se acha no Credo, ensina que Cristo continuou sob o poder da morte por um dado tempo.  A morte de Cristo não foi simbólica, foi uma realidade, o mesmo tipo de morte que os homens experimentam.

Rev. Jonas M. Cunha