“Voltando Davi para abençoar a sua casa,
Mical, filha de Saul, saiu a encontrar-se com ele e lhe disse:
Que bela figura
fez o rei de Israel...”. 2Samuel 6.20
Há uma tendência
humana, desde a queda de Adão e Eva, de querer justificar atos pecaminosos,
como não sendo praticados por culpa própria, mas como uma consequência natural
dos atos dos outros. “Se ele não tivesse feito aquilo, eu não teria feito o que
fiz!”. Muitos creem que isto isente a
pessoa da responsabilidade de seus atos.
As pessoas que
são tementes a Deus devem ter uma atitude diferente. Jamais devem justificar a prática do pecado
ou minimizar sua gravidade.
O texto nos conta
que após conseguir trazer a arca da aliança para Jerusalém, Davi, numa
incontida expressão de alegria, dançava com rodas as suas forças diante de
Deus, despojando-se de suas vestes reais, usando em seu lugar uma estola
sacerdotal (2 Samuel 6. 12-22).
Mical, sua
esposa, o acusou de falta de pudor e falta de senso de sua posição real, mas, ao
fazê-lo, ela revelou seus baixos sentimentos e disposições encobertos. Ela não
pode perceber o pecado grave que escondia em seu próprio coração, colocando-se
como um juiz a condenar Davi.
Davi não estava
usando vestes indecorosas, mas as mesmas vestes de linho que os sacerdotes do
Senhor, que estavam sacrificando bois e carneiros, enquanto a arca de Jerusalém
era reconduzida a Jerusalém. A referência de Mical aos sacerdotes como vadios,
mostra bem o desprezo que ela sentia não somente por eles, mas também pelo
ofício que ministravam e pelo Deus a quem serviam.
Além do orgulho
de sua posição real, e o ciúme, por Davi estar ocupando a posição que era de
seu pai, diferentes passagens revelam outras motivações negativas: talvez
estivesse amargurada por Davi não ter procurado reavê-la, após ela livra-lo das
mãos de Saul, e acabou sendo entregue como esposa a outro homem (1 Sm 18.20,21;
1 Sm 19.10-17; e 1 Sm 25.44); além disso, durante seu tempo de fuga ele tomou
outras duas mulheres - Abigail e Ainoã (1 Sm 25.39-44); ela fazia parte da
negociação de Davi com Is-Bosete, através de Abner, para unificação do Reino,
demonstrando Davi, de certa forma, superioridade em relação a Saul, desfazendo
a afronta dele (2Sm 3.7-21).
Ela tinha então
motivos para falar asperamente com Davi (sentia-se usada e desprezada, o que
certamente fizeram seu coração encher-se de mágoa e ira), porém isto justificava
o seu pecado.
Aquilo que nos
machuca, não nos dá o direito de machucar também. Cuidado! É comum enxergar o cisco nos olhos
dos outros, sem enxergarmos a trave diante de nós (Mt 7.3-5).
Rev. Jonas M. Cunha