“Se vós estiverdes em mim, e as minhas
palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito”(Jo.15.7)..
O
Pb. Solano Portela em seu livro "Cinco Pecados que Ameaçam os
Calvinistas", escreve no capítulo 4 que um desses pecados é o da falta de
ação, o que eu chamo de conformismo espiritual, com o recente avivamento da
doutrina reformada no meio evangélico mundial. Porém, Satanás, mais uma vez,
tem se levantado para enganar os incautos, isso porque a má compreensão de uma
doutrina bíblica, leva indubitavelmente a má aplicação desta doutrina e, é aqui
que Satanás tem posto suas forças. Por isso gostaria de refletir um pouco
acerca do conformismo espiritual, que é a tendência “lógica”, mas não bíblica,
da Doutrina da Soberania de Deus quando isolada do todo bíblico.
Quando
me refiro a conformismo espiritual, estou me referindo a tendência de se cruzar
os braços, quando na verdade devemos agir. Alguns dizem 'nem um só pardal cai
por terra se não for da vontade de Deus', isso é verdade obviamente, porém Deus
nas Escrituras nos MANDA reagir diante de algumas situações, e a tendência dos
“novos” calvinistas que, muitas vezes, não se aprofundam no conhecimento das
Doutrinas da Graça, é o de cruzar os braços diante das adversidades,
desconhecendo, por exemplo, a doutrina bíblica da providência e da oração.
O
Pr. Roger Smalling em seu livro “Os Neo-Carismáticos e o
Movimento da Prosperidade“, nos
ensina que é errado nos submetermos passivamente a aflição como a vontade de
Deus, posto que Ele é soberano e poderia ter-nos prevenido dela. Isso é
verdade, porém Deus em sua Palavra, deixa claro que devemos reagir, da forma
correta às situações que nos são apresentadas. E quando não fazemos isso
estamos incorrendo em pecado, já que na maioria das vezes a tendência é agir da
forma incorreta, e isso simplesmente por não ter compreendido corretamente uma
determinada doutrina, ou ainda tê-la isolado do todo bíblico, incorrendo em
heresia na aplicação.
Também,
não podemos esquecer que o não conformismo não é:
Murmuração.
Alguns por medo de estarem murmurando, baixam a cabeça e
cruzam os braços diante das adversidades, mas esta atitude não é bíblica, e
para isso devemos compreender o que é murmurar. Murmurar seria “falar contra alguém
ou contra alguma coisa, criticar”. Biblicamente, murmurar seria “falar contra
Deus”, “criticar a Deus”, ou simplificando “falar de Deus”. A murmuração é o
resultado da falta de oração em meio à aflição. Para os FILHOS de Deus, o
propósito da aflição é a demonstração de dependência do Pai, já que a Escritura
nos ensina que “Não veio sobre vós [crentes] tentação, senão humana; mas fiel é
Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará
também o escape, para que a possais suportar.” (cf. 1 Co 10.13). Para que o
crente não incorra em murmuração, deve sempre se colocar diante do Pai no altar
da oração, buscando dEle o escape. Foi o que fez Paulo quando do “espinho na
carne”, orou TRÊS vezes buscando livramento, até obter uma resposta de Deus, e
só se “conformou” àquela situação depois disso, já que esta se mostrou a
vontade de Deus para Ele.
Confissão positiva. Muitos
que tem saído em defesa das doutrinas bíblicas, têm se levantado contra a
teologia da prosperidade e da confissão positiva, doravante TP e CP
respectivamente, e no afã de sua defesa têm destituído a igreja da ousadia de
comparecer diante de Deus mediante Cristo, para suprir TODAS as suas
necessidades. Ora, Jesus disse “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras
estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito” (cf. João
15.7). O problema da TP e CP, neste ponto específico, é que “colocam” Deus contra a parede, imputam a Deus uma OBRIGAÇÃO em fazer o que o
homem quer, transformando Deus em “servo” da vontade humana, já que estes
fizeram o que Ele lhes ordenou. O antídoto para TP e CP não é uma submissão
passiva às adversidades, mas sim uma busca no próprio Deus por livramento, e
isto através da oração. De nada adianta ter um grande conhecimento bíblico se a
chama do Espírito não arder nos corações, e esta chama só é acesa no altar da
oração.
No
livro de Atos, os apóstolos disseram "mas nós perseveraremos na oração e
no ministério da palavra" (cf. Atos 6.4). Quando os apóstolos colocaram a
oração antes do ministério da palavra, eles não estavam ensinando que a oração
é MAIS importante, mas estavam enfatizando a oração como meio que nos prepara
para o ministério da Palavra, e não apenas para o ministério, mas para a
compreenção das verdadeiras implicações práticas das doutrinas bíblicas.
Grandes
acusações feitas às doutrinas da graça, só são feitas porque em muitos inexiste
a prática doutrinária, somos muito teóricos, e nada, ou quase nada, práticos.
Já vi pessoas que se dizem calvinistas não depositarem em Cristo sua confiança
para salvação, mas na compreensão torta que possuem da doutrina da eleição, e
que caminham como aqueles que “convertem em dissolução a graça de Deus” (cf.
Jd. 4b).
Em
Juízes 3.1,2, o Senhor diz que manteve os povos estrangeiros na terra para que
os filhos de Israel aprendessem a guerrear. Da mesma forma isso acontece
conosco, depois da nossa conversão Deus não retira da nossa vida as situações
adversas, simplesmente porque deseja nos ensinar a lutar, Ele não quer filhos
passivos, mas ativos e dependentes dEle. Quando não for para lutar Ele nos
avisará, como fez com Josafá (cf. 2Cr 20.17), ou como está escrito no Salmo
46.10 (“Parem de lutar” - NVI).
Concluindo,
não é por crermos na absoluta soberania de Deus que devemos passivamente nos
submeter às situações adversas que nos são impostas por Ele, mas devemos,
confiando em Deus, reagir à estas situações com orações e súplicas, segundo a
Sua vontade revelada na Bíblia, até que a paz de Deus que excede todo o
entendimento guarde nossa mente e nossos sentimentos em Cristo. Na luta não
reclame DE Deus aos outros, reclame COM Deus em oração.