"Sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus
11.6)
No
livro Super-heróis e a filosofia – verdade, justiça e o caminho socrático,
há um capítulo de Tom Morris intitulado “Deus, o Diabo e Matt Murdock”. Ele
aborda a questão da espiritualidade nas histórias em quadrinho. Ele faz uma
observação pertinente: “Religiosidade não é o mesmo que fé. Mas às vezes não é
fácil distinguir uma da outra. A religiosidade é superficial, a fé real é mais
profunda. De um modo geral, a religiosidade é só uma questão de hábito. A fé é
algo muito mais envolvente”. Ele critica a idéia segundo a qual os homens
criaram a fé religiosa por causa de seus temores. Diz que a religiosidade pode
ser um escapismo, muleta contra o mundo assustador. A superstição e a
religiosidade superficial são apenas reação de pessoas temerosas, mas a
verdadeira fé é mais que isto. Identificando a superstição com religiosidade
superficial, ele diz: “A superstição é um esforço temeroso e desesperado de
manipular a realidade para que se adapte às nossas necessidades”.
O que
é fé? Ele responde: “A fé autêntica é mais como uma rendição pessoal do ego e
suas exigências a algo maior que o eu”. Esta resposta se ajusta a Bíblia! Os
heróis da fé (Hb 11) abriram mão de projetos pessoais, de seu eu, para atender
às exigências de Deus. Abraão deixou tudo para atender ao propósito de Deus
para sua vida. Veja Moisés: “Por amor de Cristo, considerou sua desonra uma
riqueza maior do que os tesouros do Egito, porque contemplava a sua recompensa”
(v. 26). A fé não é gerada pelo medo, mas é uma resposta a um chamado de Deus.
Ela acaba com o medo. Volto a Morris: “Alguns dos melhores e mais extremos
exemplos de heroísmo destemido em toda a história humana envolvem pessoas com
uma fé religiosamente extraordinariamente forte. Considere os profetas, os
apóstolos, os missionários e os fiéis leigos no decorrer dos séculos, que
preferiram morrer a repudiar e abandonar sua crença”.
Fé é
compromisso. O evangelho tem sido mostrado como uma água com açúcar para que as
pessoas se sintam bem. Isto explica porque há tanta desistência, gente que
chega, é batizada e some. Não entendeu o evangelho. Jesus não pregou um
refresco com pedrinha de gelo. Fez um chamado: “Se alguém quiser acompanhar-me,
negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23).
A fé
é render-se a Deus, dedicar-se a ele, firmar votos, assumir um compromisso. É
mais que esperar proteção e cumprir ritos para ver se a vida melhora. É
achar-se dentro do propósito de Deus. É buscar a vontade de Deus e ajustar-se a
ela. Na magia e na superstição tenta-se manipular forças para melhorar a vida.
A fé verdadeira reconhece que não temos força suficiente para viver e
precisamos da força de Deus para viver. Não para uso em nosso benefício, mas
para a glória dele. A verdadeira fé entende que mais importante é que ele seja
servido por nós. Que nossa vida o glorifique. A fé autêntica compreende que nos
realizamos fazendo a vontade de Deus, honrando-o, promovendo seu reino. Nesta
realização temos segurança, a vida tem mais cor, e as demais coisas perdem importância.
Na religiosidade, o eu tenta dominar Deus e tirar vantagem. E se desanima
quando não consegue vantagens. Na fé, a alegria está em servir a Deus.
Você tem
fé ou mera religiosidade?
Isaltino
Gomes Coelho Filho