“Meus
irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber
maior juízo”. (Tg 3.1)
"Eu-ísmo". Você já viu
esta palavra antes? Não se preocupe. Nem eu, até o dia em que escrevi esta
pastoral. Vi-a num livro de MacArthur, Ouro
de tolo – discernindo a verdade numa época de erro. Está no capítulo
"Controlando as escolhas – combatendo o consumismo com uma mentalidade
bíblica". Gostei tanto dos argumentos que fui orientado para este
artiguete. Eis o que MacArthur chama de "Eu-ísmo": "Em essência,
consumismo é ‘eu-ísmo’– chamando-nos a exaltar-nos
a nós mesmos como árbitros de todas as nossas questões" (p. 179). O capítulo começa com o autor comparando um mercado na
Rússia, onde fora pregar, com um mercado norte-americano. Não havia opções no
mercado russo. A seção de alimentos era minúscula. De volta aos EUA ele contou
as opções americanas: 264 opções de cereal matinal, 62 tipos diferentes de
mostarda, 305 opções de desodorantes e 198 variedades de escovas de dente.
"O consumidor em primeiro lugar" é o lema do capitalismo americano.
Tudo centrado na pessoa como cliente. Ela deve ser bem servida.
MacArthur diz que esta mentalidade migrou para a igreja. As pessoas escolhem
igrejas, pregadores, possibilidades eclesiásticas, como quem escolhe um
produto. Trazem a atitude de cliente para a igreja. Os crentes não se vêem mais
como servos, mas como clientes a serem servidos. Analisam os produtos para ver
qual é o mais vantajoso. Na linguagem corrente, a relação
"custo/benefício". Geralmente tais pessoas querem benefício a custo zero.
Que os outros sustentem o trabalho do qual ela desfruta.
Meu filho Beny (isto é um pleonasmo, porque ben y significa "filho de mim"),
diácono e vice-presidente numa igreja do Pará, me pediu uma orientação. Como
agir com crentes que só vão à igreja se forem visitados? Exigem ser visitados
toda semana para irem à igreja. Sugeri-lhe criar uma comissão de visitação e
convidar tais pessoas que tanto valorizam visitas a integrá-la. Que saiam a
visitar os outros. Ele gostou da idéia. Duvido que tais crentes queiram
visitar. Não é o valor ou a necessidade de visita que eles vêem. São clientes.
Querem ser paparicados. Isto é "eu-ísmo". Ao invés de centralizar a
vida em Deus, o crente centraliza em si. A preocupação não é se as expectativas
de Deus foram atendidas em sua vida, mas se suas expectativas foram atendidas
na igreja. São o centro da vida. Não são servos, são senhores.
Gosto de ser útil às minhas ovelhas. Atendê-las,
ouvi-las e tentar ajudá-las faz-me bem. Dá-me sensação de utilidade. Mas
reconheço que boa parte do tempo de um pastor é com crentes
"eu-ístas". A consciência de servo, a noção de engajamento e a visão
da igreja como uma comunidade onde nos inserimos para lutar por uma causa, isso
se esvaiu em nosso meio. Nas igrejas, cada vez mais as pessoas em número cada
vez maior querem ser satisfeitas. Tudo deve agradá-las. É o
"eu-ísmo". Um convertido verdadeiro entende a vida cristã como
"Deus-ísmo" (esta não é do MacArthur, é minha!). Mas há cada vez mais
"eu-ístas" que "Deus-ístas" entre nós.
Jesus não é dono de supermercado e você não é um
cliente. Você não foi salvo para ter as suas vontades atendidas. Nem a igreja
existe para seus caprichos. Você foi salvo para servir a igreja!