Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, pela vontade de Deus, de conformidade
com a promessa da vida que está em Cristo Jesus, ao amado filho Timóteo,
graça,
misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor.” (2 Timóteo 1.1-2).
Deus é soberano – a
vontade de Deus é suprema. Isso significa não somente que ele pode controlar
algo se desejar fazê-lo, mas significa que nada pode acontecer a menos que ele
decida que isso deveria acontecer e, então, faça com que isso aconteça,
mediante um poder ativo e invencível. A distinção é crucial. A falha em
reconhecê-la tem resultado em absurdo e inconsistência mesmo naqueles que se
consideram defensores da soberania de Deus. Deus não somente pode ativa e
diretamente decidir e controlar tudo – como se fosse possível ele metafisicamente
deixar algumas coisas funcionarem por si mesmas – mas Deus de fato ativa e
diretamente decide e controla tudo, incluindo todos os pensamentos e ações
humanas, quer boas ou más. Isso é verdadeiro por necessidade lógica, pois Deus
é o único e universal poder metafísico que existe.
Estou lhe dizendo o que aconteceu a
Paulo. Ele escreve que era um apóstolo de Cristo Jesus “pela vontade de
Deus”. A frase em si pode se referir ao decreto ou preceito de Deus. Isto
é, pode se referir à decisão eterna de Deus que Paulo seria um apóstolo, ou ao
mandamento temporal de Deus que Paulo deveria ser um apóstolo. Parece que a
frase em nossa passagem refere-se ao decreto de Deus. Deus decretou todas as
coisas antes da criação do mundo, e ele concebeu Paulo e pré-ordenou que ele
seria um apóstolo. Paulo escreve que foi separado no nascimento (Gálatas 1:15),
mas ele não nasceu um cristão. João o Batista foi cheio do Espírito enquanto
ainda estava no ventre da sua mãe, mas Paulo viveu uma vida de assassinato até
o Senhor Jesus confrontá-lo. Ambos foram ordenados pela vontade de Deus, mas
Deus decretou vidas diferentes para eles.
Não é que Deus “permitiu” Paulo
correr solto até Atos 9. Deus tinha tanto controle de Saulo o Fariseu como de
João o Batista. Seu plano demandou que Paulo estiver no caminho que estava
antes de sua conversão. E Paulo nos diz pelo menos parte da razão: “Mas
por isso mesmo alcancei misericórdia, para que em mim, o pior dos pecadores,
Cristo Jesus demonstrasse toda a grandeza da sua paciência, usando-me como um
exemplo para aqueles que nele haveriam de crer para a vida eterna” (1
Timóteo 1:16). O drama da conversão de Paulo serve ao drama maior da redenção.
Deus tinha pré-ordenado que Paulo se tornaria um exemplo de um grande pecador
que receberia misericórdia, de forma que “Cristo Jesus demonstrasse
toda a grandeza da sua paciência”. Repetindo, isso foi em prol da
demonstração, do drama. Mas para isso acontecer – para Paulo se tornar um
grande pecador que recebe misericórdia – ele deve primeiro viver como “o
pior dos pecadores”. Deus planejou e Deus fez acontecer – tudo isso. A
vontade de Deus era que ele se tornasse o representante mais eficaz e prolífico
da fé na igreja primitiva, pois a vontade de Deus nunca falha. Livro "Reflexões
sobre 2 Timóteo".